quinta-feira, 28 de abril de 2011

Se você experimentar desse “amor que acende a lua”...


Eu não acredito em ateus! Não acredito com todo o meu direito de não acreditar. Somos essência divina mesmo sem querer. Nascemos pelas mãos de um DEUS maravilhoso que machuca-se todo para curar nossas dores. Esse Deus amigo das crianças que é como o vento: não se pode ver, não se pode tocar, mas pode-se sentir na total impossibilidade de ignorá-lo.

Também não acredito em “crentes” que invadem escolas e matam crianças, que explodem meio mundo ‘em nome de deus’. Essas são pessoas não dignas de serem chamadas humanas porque lhes falta a mínima humanidade. São máquinas, monstros... É preciso não comungar dessas idéias contrárias à vida e aliadas ao sistema de coisas vigente porque “Quem está perdido em Deus e está achado neste mundo”.

É bem verdade que vivemos numa realidade carente de bons sentimentos. Vivemos num mundo em que a miséria material e espiritual é que alimenta a mídia e os governos. Há que se repensar nessa bondade de fachada em que se fazem programas de TV e heróis de capa de revista. E há também que se repensar nessa maldade que adentra nossos lares e aterroriza nossas famílias. É preciso experimentar o Amor. É preciso crer no Amor experimentado. Não esse Amor sensacional que vende perfumes no dia dos namorados, mas sim aquele capaz de acender as noites, de fazer o sol lamber todas as manhãs as flores e os gramados. É preciso crer no Amor de Deus!  Porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre (Salmos 136:1).”

Deus quer que experimentemos dessa amizade, desse amor que acende a lua. Certamente não se alegra com a superficialidade que é lembrar Dele na Páscoa, no Natal... ELE está nos mínimos detalhes em todo e qualquer tempo. Por isso deseja que não nos esqueçamos de nossa ligação direta com ELE, e essa é uma das razões por que instruiu Lucas a incluir em seu evangelho a genealogia de Jesus Cristo, que termina com as magníficas palavras: “Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus” (Lc 3:38). Sem dúvida, uma linhagem bem mais honrosa do que seria: “Adão, filho de um antropóide, filho de um chimpanzé, filho de um anfíbio, filho de um molusco, filho de uma ameba.”

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Era uma fada que tinha idéias


Aí, devagarzinho, ela apareceu “como quem semeia não como quem ladrilha”. Ela era de uma energia fantástica e me lembrou Clara Luz de Fernanda Lopes de Almeida. Como Clara Luz, Ireny era uma professora criativa, que queria ter e permitir idéias próprias, um pouco menos malucas, é claro, como transformar bule de café em passarinho, dar vida às nuvens e colorir a chuva. Para Clara, para a professora Ireny e para mim "quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda”.
E passamos a compartilhar de momentos mágicos de conhecer e entender o mundo das letras e da poesia. Ireny gostava de beber poesia, como poucas pessoas que cruzaram meu caminho.
Vou sentir falta das nossas conversas cheias de Drummond, Cecília, Adélia, Vinicius e Coralina. Os livros que ela me emprestou no mês passado, que não tivemos oportunidade de discutir, ainda não sei para quem entrego.
E hoje... de tantos textos, o que fica é este poema de indignação:

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

(Drummond)


A ela (Ireny) meu respeito, admiração e amizade eterna.

Outono


E é outra vez o outono beijando o meu rosto.
Assoprando de vagarinho...
mil palavras para renovar minha história. 

Outono é tempo de deixar cair as folhas secas
que impedem um novo broto de beber o sol.
É tempo de colher os frutos bons
e limpar o canteiro para receber uma nova semeadura.

É preciso não deixar que o frio anunciado
seja capaz de apagar a chama que nos faz humanos amantes e amados.
E que, quando estiver nublado lá fora,
não seja aviso de dilúvio na nossa essência. 

Preparemo-nos
para tornarmo-nos eternos
na efemeridade deste outono.
E que tudo seja
“simples...
como a água e o pão,
como o céu refletido
nas pupilas de um cão”.


Poema de Liz Maria publicado no Jornal Mundo Jovem Abril/2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um texto super interessante...


Passeio Socrático

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, kA haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

-“Qual dos modelos produz felicidade?”

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- “Não foi à aula?”

Ela respondeu: - “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei:

-“Que bom! Então de manhã você pode brincar e dormir até mais tarde”.

- “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã...”

- “Que tanta coisa?”, perguntei.

-“Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina” e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: - “Que pena, a Daniela não disse: “Tenho aula de meditação!”

Estamos produzindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o Q.I, é a I.E, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super executivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante se os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo, em 1960, tinha 06 livrarias e 1 academia; hoje, tem 60 academias e 3 livrarias! – Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.

Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”

“Olha, uma maravilha, não tinha celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Dos valores da Vida?

Outrora, falava-se em realidade: análise de realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega AIDS, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio sem nenhuma preocupação de conhecer se vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais?

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil – com raras exceções- é um problema: a cada semana que passa temos a sensação de que ficamos um pouco menos culto. A palavra hoje é “entretenimento”; domingo, então é o dia nacional da imbecialização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde inteira diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá! “O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com os seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, não sou da área, posso me dar o direito de apresentar um sugestão: acho que é só virar o desejo pra dentro porque pra fora ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor... Aliás, para uma auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem uma linha arquitetônica de catedrais estilizadas; nele não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupas de ir à igreja aos domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca; não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no aperto. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s?

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: ”Estou apenas fazendo um passeio socrático.”

Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.

Carlos Alberto Libânio Christo