segunda-feira, 11 de abril de 2011

Era uma fada que tinha idéias


Aí, devagarzinho, ela apareceu “como quem semeia não como quem ladrilha”. Ela era de uma energia fantástica e me lembrou Clara Luz de Fernanda Lopes de Almeida. Como Clara Luz, Ireny era uma professora criativa, que queria ter e permitir idéias próprias, um pouco menos malucas, é claro, como transformar bule de café em passarinho, dar vida às nuvens e colorir a chuva. Para Clara, para a professora Ireny e para mim "quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda”.
E passamos a compartilhar de momentos mágicos de conhecer e entender o mundo das letras e da poesia. Ireny gostava de beber poesia, como poucas pessoas que cruzaram meu caminho.
Vou sentir falta das nossas conversas cheias de Drummond, Cecília, Adélia, Vinicius e Coralina. Os livros que ela me emprestou no mês passado, que não tivemos oportunidade de discutir, ainda não sei para quem entrego.
E hoje... de tantos textos, o que fica é este poema de indignação:

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

(Drummond)


A ela (Ireny) meu respeito, admiração e amizade eterna.

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