"Não é que você seja diferente, mas é que ninguém consegue ser igual a você."
(William Shakespeare)
Eram três meninas e um menino. Entre oito e dez anos de idade, eram quatro crianças mais que especiais e eu as acompanhava, observava e aprendia com elas a essência de educar sendo humana numa sociedade em que ser educadora e ser humana de verdade é, na maioria das vezes, uma tarefa difícil devida à rapidez cibernética e ao processo de coisificação que vem sofrendo o mundo.
Fomos felizes juntos durante três meses. Brincamos, estudamos, pesquisamos, inventamos arte, “pintamos o sete”. Eram pessoas fantásticas e que, mesmo tão pequeninas, tinham histórias compridas de maus tratos, humilhações, negligências e também de superação, de esperança, de força de vontade. Passávamos algumas tardes simplesmente numa “rodinha da amizade” contando estórias e falando das nossas vidas. Foi numa dessas rodinhas que um dos meus pequenos deduziu algo que me chamou a atenção: “nós somos uma mão e cada um é um dedo, porque na mão tem cinco dedos diferentes. Nós somos dedos porque nosso tamanho é diferente”. Passei o restante do dia refletindo e achando linda a expressão do meu amigo. Não sabia ele quanta sementinha havia plantado na minha cabeça.
Realmente cinco dedos. Eram ali quatro deficiências de aprendizagem e uma ainda deficiência de ensinagem, que somamos as nossas eficiências para um resultado comum, como os dedos de tamanhos diferentes unidos no aperto de mão. A questão é que podíamos agora trabalhar com uma nova pedagogia: a Pedagogia dos Cinco Dedos, a pedagogia do diferente. Mas que pedagogia haveria nos dedos para que aprendêssemos um novo jeito de absorver conhecimento, de cooperar, de evoluir respeitando e apostando na nossa diferença? Começava ali a nossa grande viagem pelo mundo da anatomia e utilidade da mão.
A semana seguinte foi de coleta de informações para que desvendássemos algumas funções dos dedos da mão. Foi uma grande festa quando fizemos a “rodinha da amizade” para socializar os achados. Desde enfeitar o corpo humano, a construir a história das coisas, a necessidade dos cinco dedinhos esquerdos e dos cinco direitos encantava os meus descobridores. A próxima tarefa foi de desenhos, pinturas e colagens sobre nossas pesquisas e de listagem das novas palavras que conhecemos juntos durante aquele tempo.
Foi então que chegou a vez em que comprovaríamos a Pedagogia dos Cinco Dedos (ou não - Temíamos). Começamos a fazer comparação das funções deles com a postura humana. Quanto à forma, o tamanho e a espessura nos diziam sobre as diferenças físicas que bem notamos no nosso dia-a-dia. Disso aprendemos que ao invés da intolerância à diferença, legal mesmo seria experimentar a aceitação que experimentam os dedos. A Pedagogia dos Cinco Dedos assim caracterizamos:
é a pedagogia da cooperação e da amizade;
da aceitação e observação do diferente;
do dinamismo;
da completude;
da versatilidade;
da segurança.
A Pedagogia dos Cinco Dedos é a pedagogia do afago, do amor de perto, de corpo presente. É aquela que privilegia o dom de cada um e que os soma na sempre necessidade e felicidade que é estar em equipe, em família.
Caso você, aluno, professor, mãe, pai, amante da Educação e da Vida, passe pelo momento de aplicar novas táticas de ensino, novas pedagogias e, de repente, percebe que o que temos de estudos disponíveis até então ainda é pouco para resultados satisfatórios, invente, brinque, pratique a conversação e a observação. Uma nova pedagogia pode surgir de atos bem simples que, na maioria das vezes, deixamos passar despercebido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário